Se existe hoje no Brasil um legado explícito e material dos séculos de exploração, a que principalmente  o povo preto e o indígena foram submetidos durante mais de três séculos de colonialismo, opressão, exploração e escravidão no país, esse legado é a favela.

Segundo o Censo 2010 do IBGE, o Brasil tinha cerca de 11,4 milhões de pessoas morando em favelas e cerca de 12,2% delas (ou 1,4 milhão) estavam no Rio de Janeiro. Considerando-se apenas a população desta cidade, cerca de 22,2% dos cariocas, ou praticamente um em cada cinco, eram moradores de favelas. No entanto, ainda em 2010, Belém era a capital brasileira com a maior proporção de pessoas residindo em ocupações desordenadas: 54,5%, ou mais da metade da população. Salvador (33,1%), São Luís (23,0%) Recife (22,9%) e o Rio (22,2%) vinham a seguir.” (fonte IBGE)

Na cidade de São Paulo, segundo reportagem da Carta Capital de 2018, tem-se o maior número de favelas do Brasil, com 1.715 ocupações cadastradas pela Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB). Estima-se que elas comportam 391 mil domicílios e mais de dois milhões de moradores, o equivalente a 11% da população da cidade.

Favela do Vietnã - Zona Sul SP
Favela do Vietnã – Zona Sul SP ; Foto de Marcos Alonso – Casa Marighella

Desde sua origem, a favela abriga a parcela da população pobre, majoritariamente preta, a quem desde sempre foi negado o acesso aos principais espaços de poder e tomada de descisão na sociedade como a universidade pública, os cargos de liderança das instituições, na medicina, engenharia e advocacia, e nas cadeiras no senado e na câmara, entre outros. O racismo estrutural e institucional, ainda profundamente entrincheirado em nossa sociedade, briga para manter calada a voz da favela e do povo preto e para mantê-los isolados nas periferias das cidades, longe dos espaços de lazer, cultura e educação, longe de seus postos de trabalho, enfrentando verdadeiras vias-sacras em conduções lotadas, sendo assassinados em suas próprias casas e/ou encarceirados pela institucionalização desse racismo através da polícia militar e de líderes facistas, viúvos da ditadura militar, como o atual presidente da república, sua família e sua corja de milicianos no planalto central e no Rio de Janeiro.

Para quem (sobre)vive nas favelas, a luta é diária, como diz Danilo Biu, um dos líderes comunitários da Favela do Vietnã, na zona sul da cidade de São Paulo e integrante do movimento Revolução Periférica.

Mas o que os donos do poder não esperavam era que, feitos os quilombos de antigamente, centros de organização, resistência e luta do povo preto escravizado, a favela, desde sua origem, iria também se organizar, resistir e lutar, contra todo tipo de abuso, morte e opressão.

Entrega de Ovos de Páscoa para as crianças da Favela do Vietnã, na sede do grupo Favela Vietnã no Ar. Foto de Marcos Alonso – Casa Marighella

O grupo Favela Vietnã no Ar, espaço de organização e luta dentro da própria favela (assim como acontece na maioria das favelas do Brasil), na batalha por um país menos desigual, realiza diversas ações de conscientização e educação por conta própria além de contar também com o apoio de diversas coletivas parceiras.

No mês de Abril deste ano, a comunidade da zona sul, apoiada também por paraisópolis, confeccionou e distribuiu algumas centenas de ovos de páscoa para as crianças que ali vivem, em mais uma oportunidade que envolve movimentação, debate, conscientização, organização e luta.

Biu ainda complementa:

A gente tá acostumado com a exclusão, mas a gente faz acontecer. Nas nossas quebradas ninguém fica sozinho, não. A gente levanta barraco, junta brinquedo pras crianças, faz sopão e faz manifestação também, pra todo ver que a gente tá aqui. que a gente se organiza, e que a gente vai ser ouvido de uma maneira ou de outra.

Em resumo, após a ascensão do atual governo do país (e com ele o aumento da violência social, política, ambiental e institucional), onde mais que dobrou o número de militares em cargos civis no governo,  e com o advento da pandemia do COVID-19, as dificuldades de sobrevivência na favela se intensificaram substancialmente e, não fosse a união e a luta, a situação seria ainda mais catastrófica.

Já no próximo dia 02 de outubro, não só a favela mas toda a população brasileira, tem a chance de modificar um pouco essa catástrofe e esse cenário de opressão, elegendo nas urnas um governo que valorize as populações marginalizadas, os povos originários, a comunidade preta e a comunidade LGBTQIA+, a classe artística, o meio ambiente, a importância das instituições brasileiras a muito custo construídas e a educação. Amanhã é a democracia contra a barbárie.

Poderia listar mais 13 motivos aqui, mas vou deixar pra um próximo post no Blog.

Que a democracia prevaleça!

Resistimos!

 

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